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Parque
Nacional da Lagoa do Peixe |
O
Parque Nacional da Lagoa do Peixe foi criado por sugestão
do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF, hoje IBAMA) visando à proteção
de espécies animais, particularmente das aves
migratórias, que encontram na região condições
propícias para sua alimentação
e repouso, durante seus vôos anuais, entre pontos
que distam até 10.000 km (dez mil quilômetros)
desde as áreas de reprodução, na
região ártica da América do Norte,
até os locais onde passam o inverno boreal, na
Patagônia e adjacências (caso das batuíras
e maçaricos). |

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A
região serve também como excelente abrigo
invernal para outras espécies de aves como os
flamingos e o maçarico-de-papo-vermelho, que
ali passam vários meses do ano, refugiando-se
da aspereza do inverno austral do continente sul-americano.Os
ecossistemas componentes desta estreita faixa de terra
entre a laguna dos Patos e o Oceano Atlântico,
onde está o PARNA da Lagoa do Peixe, apresentam
particularidades e atributos que lhes conferem também
outra grande importância em nível mundial.
Por este motivo a região, onde está inserido
o Parque, foi tombada em 1992 pela Secretaria de Cultura
do Estado do Rio Grande do Sul, e o Parque foi incluído
na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na categoria
de Zona de Núcleo. Este diploma é concedido
pela UNESCO, dentro do Programa MAB (L’Homme et
la Biosphér) através do COBRAMAB- Comitê
Brasileiro do Programa Homem e a Biosfera e representa
o reconhecimento oficial da UNESCO sobre a importância
destes ecossistemas para a sobrevivência da vida
no Planeta. |
O
Parque Nacional da Lagoa do Peixe foi criado por sugestão
do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF, hoje IBAMA) visando à proteção
de espécies animais, particularmente das aves
migratórias, que encontram na região condições
propícias para sua alimentação
e repouso, durante seus vôos anuais, entre pontos
que distam até 10.000 km (dez mil quilômetros)
desde as áreas de reprodução, na
região ártica da América do Norte,
até os locais onde passam o inverno boreal, na
Patagônia e adjacências (caso das batuíras
e maçaricos). |
Em
junho de 1993, quando da adesão do Brasil como
parte contratante à Convenção de
Ramsar relativa à conservação de
ambientes aquáticos de importância internacional,
o Parque Nacional da Lagoa do Peixe foi incluído
como mais uma área sob os auspícios deste
Tratado, ratificando mais uma vez sua importância.Em
1998 o Parque passou a ser considerado área piloto
da Reserva da Biosfera no Rio Grande do Sul e uma das
sete maravilhas deste Estado.
SIGNIFICÂNCIA
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe está inserido
no segmento mediano da Planície Costeira do Rio
Grande do Sul, entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico.Criado
em 1986 pelo IBDF (hoje IBAMA), o PARNA visa a proteção
de espécies animais, particularmente da avifauna,
que encontram na região condições
adequadas para sua alimentação, repouso
e reprodução bem como, a preservação
de uma amostra do ecossistema típico da restinga
situada entre a zona subtropical e temperada. |
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Os
processos geológicos que ocorreram na formação
da restinga a partir do final do Terciário resultaram
em um ambiente inóspito sob o ponto de vista
antrópico, com restrições de uso
e acesso.
Esses fatores, associados ao rigor climático
típico da latitude local, contribuíram
significativamente para o atual estágio de isolamento
cultural e socioeconômico em que se encontra a
região da Unidade de Conservação,
fazendo desta uma das menos desenvolvidas do Estado
do Rio Grande do Sul o que contribuiu para a manutenção
das comunidades silvestres. |
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Essa
região, no passado, aparentemente foi bastante
habitada por grupos das tradições Vieira
e predominantemente Tupiguarani, o que pode ser comprovado
pelos 21 sítios encontrados na área do
Parque e seu entorno.Por fazer parte de um sistema costeiro
jovem, confinado, de baixa produtividade e com reduzida
profundidade do lençol freático o Parque
apresenta uma alta vulnerabilidade dos recursos hídricos
existentes. O aspecto mais marcante é a extrema
variabilidade e mobilidade do ambiente em curtos períodos
de tempo, estando esta associada aos parâmetros
meteorológicos e a modificação
acelerada da paisagem em função do vento.
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São
encontradas no Parque Nacional da Lagoa do Peixe várias
unidades ambientais como marismas, banhados, ilhas,
lagoas interiores de água doce, laguna, dunas,
praia interiores e oceânicas, planos intertidais,
infralitoral vegetados e não vegetados, pradarias
de algas e fanerógamas submersas, canal, campos
e mata de restinga.
A Lagoa do Peixe, uma das principais feições
dentro do sistema, apresenta forma cordiforme com 35km
de extensão, largura média de 1km, reduzida
profundidade (30cm) e água clara que varia, de
acordo com o local, de doce à mixohalina polihalina
chegando à hipersalina em épocas de seca.
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Nessa
situação de estiagem a laguna pode secar
ficando praticamente reduzida ao canal de acesso ao
oceano. Essa comunicação com o mar é
periódica ocorrendo atualmente através
de abertura artificial nos meses de inverno e persistindo
até o início do verão quando, pelos
ventos predominantes, sua desembocadura é bloqueada
pela deposição dos sedimentos marinhos.
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Eventualmente,
em anos muito chuvosos, a ligação pode
persistir durante todo o período. Devido a estas
características a laguna possui uma elevada produtividade
de microorganismos que sustentam uma expressiva biomassa
de crustáceos decápodos (camarão-rosa,
siris e caranguejos) e peixes que usam este ambiente
como área de criação.
Os marismas que circundam a Lagoa do Peixe e as pradarias
de espermatófitas submersas encontradas no seu
interior constituem-se em áreas de intensa produção
e exportação de material detrítico;
atuando como criadouros naturais para peixes e invertebrados.
Ambientes de menor produção, os planos
intermareais e o infralitoral são dominados pelo
zoobentos suspensívoro e comedor de depósito
que consomem o detrito alóctono; esses organismos,
por sua vez, serão o alimento preferencial de
peixes, decápodes e aves, que utilizam esses
locais desprovidos de densa cobertura de macrófitas
como área de alimentação. |
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A
zona do canal da laguna, relativamente pobre em termos
de organismos, constitui relevante corredor genético
e rota migratória principal para a maioria das
espécies estuariais e, pela maior profundidade
da coluna d’água crescem em importância
para as formas pelágicas. Os zoobentos encontrados
na laguna apresentam uma diferença em riqueza
de espécies entre as estações do
ano. No inverno registram-se apenas 6 espécies
contra as 14 espécies presentes durante o verão
e o outono. A ausência de outros representantes
marinhos e estuarinos do grupo dos moluscos e dos crustáceos
peracáridos pode estar associada à seca
e a deposição de areia, e ao forte impacto
da predação de decápodes, peixes
e aves sobre a macrofauna.
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Das dezessete espécies de macrófitas registradas
nas marismas da Lagoa do Peixe apenas sete (Paspalum
vaginatum, Cotula coronopifolia, Spartina densiflora,
Hydrocotyle bonariensis, Androtrichum trigynum, Bacopa
monnieri e Juncus acutus) apresentaram cobertura vegetal
maior do que 10% em pelo menos um dos pontos amostrais.
A "grama-arame" Paspalum vaginatum é
a espécie mais frequente e abundante em solos
úmidos e arenosos.
As fanerógamas submersas Ruppia maritima (espécie
dominante), Zannichellia palustris e Potamogeton sp.
ocorrem associadas a algas bentônicas dos gêneros
Enteromorpha, Ulva e a outras menos expressivas, bem
como a algas cianofíceas.
Quanto as cianofíceas foram identificados até
o momento 29 táxons específicos e infra-específicos
distribuídos em 4 famílias e 12 gêneros.
Dentre esses táxons, 8 não haviam ainda
sido registrados para o Estado do Rio Grande do Sul
e 1 constitui-se em primeira citação de
ocorrência para o Brasil.
A fauna zooplanctônica da Lagoa do Peixe caracteriza-se
principalmente pela presença do copépodo
estuarino e costeiro Acartia tonsa (adultos, copepoditos
e náuplius) e por copépodos e cladóceros
de água doce provenientes de arroios que deságuam
na mesma. Possivelmente, Acartia tonsa seja a principal
dieta de larvas e peixes zooplanctófagos dessa
laguna.
A composição da ictiofauna da laguna varia
com a salinidade destacando-se o predomínio em
número e biomassa de barrigudinhos da família
Poeciliidae e Anablepidae (= Jenynsidae), tainhas (Mugill
sp) e peixes-rei (Xenomelaniris brasiliensis e Odontesthes
argentinenses). Os barrigudinhos são os únicos
que realizam seu ciclo vital completo dentro da laguna
enquanto os representantes das outras espécies
são juvenis, utilizando-se deste ambiente como
refúgio para alimentação e crescimento.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe constitui-se em
uma da áreas mais ricas em aves aquáticas
da América do Sul contando atualmente com o registro
de 182 espécies entre residentes nidificantes,
invernantes de zonas mais meridionais e limnícolas
do Neártico, em trânsito e invernantes.
É região crítica para vários
representantes a exemplo de maçaricos e batuíras,
que usam a Unidade de Conservação como
ponto de parada na sua rota migratória.
Localizados no extremo sul e norte do Parque, os banhados
de água doce abrigam uma rica flora e fauna.
Entre os animais destaca-se o jacaré-de-papo-amarelo
e a lontra (espécies ameaçadas de extinção),
capivara e o ratão-do-banhado, estes últimos
vivendo e procriando nesses ambientes, os quais são
também utilizados por diversas aves, cada uma
com seus hábitos tróficos, ninhos e locais
preferenciais.
Composta de areais finas, as praias oceânicas
do PARNA, albergam milhares de organismos. Os representantes
faunísticos enterrados na zonas intertidais são,
em sua maioria, filtratores e detritívoros, servindo
de base alimentar para pequenos maçaricos migratórios.
Os filhotes de peixes criam-se na zona de rebentação
alimentando aves, peixes e tartarugas marinhas. No inverno
podem aparecer espécies vindas do Sul como pingüins
e a baleia-franca. É notória a presença
de leões e lobos marinhos descansando na praia.
O extenso cordão de dunas existente na orla do
PARNA chegam a alcançar cerca de 10km de largura
e estão migrando para o interior do continente
pela ação constante dos ventos predominantes
de direção nordeste e pelo processo erosivo
que se verifica nesta área. Com baixa diversidade
de espécies vegetais este ambiente abriga roedores
(tuco-tuco), insetos, répteis e anfíbios.
Aves como o piru-piru e o maçarico-de-colar põem
os ovos e vivem o ano todo associados a esse sistema.
Formado predominantemente por gramíneas, os campos,
estão bem representados na região da barra
da laguna. Este tipo de vegetação cobre
a maioria das ilhas e praticamente toda a margem da
Lagoa do Peixe. Intensamente usados como pastagem, a
cobertura vegetal é bastante rala. A freqüência
de inundação salgada sobre estes campos
torna-se visível através da presença
de Salicornia gaudichaudiana, encontrada nas regiões
próximas as margens. A fauna é caracterizada
por mamíferos de pequeno porte (tatus, roedores,
gambá, zorrilho), aves (joão-de-barro,
quero-quero, chimango-carrapateiro, coruja-do-campo)
e répteis (lagarto e cobras).
A mata nativa da região apresenta uma vegetação
bastante variada (81 espécies identificadas até
o momento) em decorrência da instabilidade do
terreno e com caráter edáfico, o que a
diferencia das regiões circundantes. As matas
mais desenvolvidas crescem principalmente ao longo da
chamada "recosta" (Barreira III), formando
uma faixa que acompanha o sistema lagunar desde o norte
até a altura de Bojuru, no sul, e que funciona
como uma espécie de "corredor de dispersão"
de várias espécies da Mata Atlântica
(Floresta Ombrófila Densa), como Rheedia gardneriana
(bacopari, Geonoma schottiana(guaricana), Nectandra
rigida (canela-amarela). Algumas das espécies
encontradas, já são consideradas raras
ou em processo de extinção em outras regiões
do país, como é o caso de Bumelia obtusifolia
var. excelsa (espinheiro) e Geonoma schottiana(guaricanea).
São também encontradas espécies
com propriedades medicinais como a carqueja e a banana-do-mato.
A mata serve de abrigo aos animais silvestre como o
graxaim e a uma abundante avifauna, notadamente pequenos
pássaros que se alimentam-se de frutos e invertebrados
(sabiás, pica-pau, tessourinha entre outros).
A existência e a inter-relação destes
ambientes fornece ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe
características peculiares e atributos que lhe
confere grande importância em nível mundial
sendo considerado Reserva da Biosfera, Sítio
Ramsar e Reserva Internacional de Aves Limnícolas.
ORIGEM DO NOME
O nome "Parque Nacional da Lagoa do Peixe"
originou-se provavelmente da importância da Lagoa
do Peixe dentro deste ecossistema, uma vez que esta
é a maior lagoa, na verdade uma laguna, existente
dentro da área do Parque (cerca de 35 km de extensão)
e o local preferencialmente procurado pelas aves para
alimentação devido a sua pequena profundidade.
PLANO DE MANEJO
O Plano de Manejo do Parque Nacional da Lagoa do Peixe
é o instrumento que determina o zoneamento da
Unidade de Conservação (UC), caracterizando
cada uma de suas zonas, e que propõe seu desenvolvimento
físico de acordo com seus objetivos e estabelece
as diretrizes básicas para seu manejo.De existência
obrigatória pelo Regulamento dos Parques Nacionais
Brasileiros, o Plano de Manejo do Parque Nacional da
Lagoa do Peixe só recentemente foi concluído,
12 anos após a criação da Unidade
de Conservação. O Parque Nacional da Lagoa
do Peixe teve um primeiro projeto de Plano de Manejo
iniciado em 1989 pela FURG sob a coordenação
dos Prof. Lênio Jones Borsato e Carlos Alberto
Fossati Dutra Pereira. Embora alguns relatórios
tenham sido concluídos, o projeto foi abandonado
por falta de financiamento.Com a coordenação
da Professora do Departamento de Oceanografia da FURG,
Rosângela Braga Knak, o projeto envolveu além
do Departamento de Oceanografia, os Departamentos de
Geociências, Biblioteconomia e História,
Química e Física da FURG; a entidade não
governamental denominada Núcleo Estudos e Monitoramento
Ambiental (NEMA) e a Faculdade de Arquitetura da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel). Todo o trabalho foi discutido
e supervisionado pelo Departamento de Unidades de Conservação
(DEUC), do IBAMA. |
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